Psicologia do Desenvolvimento Jean piaget

 

  Estádio 

A Psicologia do desenvolvimento é um ramo da psicologia que está relacionada com o estudo de todos os aspectos do desenvolvimento humano: físico-motor, intelectual, afectivo-emocional e social. Este estudo não é apenas centrado em uma etapa da vida, mas ocorre sim desde o nascimento até à idade adulta, ou seja, quando o ser humano atinge o seu maior grau de maturidade e estabilidade.

            O desenvolvimento humano pressupõe uma estrutura humana, a estrutura da personalidade, que é desenvolvida ao longo do tempo progressiva, diferencial e globalmente. Não se pode por isso separar o desenvolvimento humano da noção de estrutura do sujeito, ou seja, o desenvolvimento humano não é mais do que a progressiva evolução da estrutura do sujeito, da sua personalidade, progressivamente, através de diferentes estágios, sendo estes regidos por determinados princípios:

·         Do simples para o complexo;

·         Do geral para o específico;

·         Do sensório-motor para o operatório;

 

            Relativamente ao desenvolvimento físico, este obedece aos seguintes princípios:

·         Céfalo-caudal;

·         Próximo-distal.

 

Esquema

 

 “O esquema de uma acção consiste na organização geral dessa acção, que se mantém quando é repetida, consolidando-se através do exercício e aplicando-se às diversas situações que vão variando, em consequência das modificações que ocorrem no meio ambiente” (Piaget, 1972,p.69).

O esquema é um conceito complexo, que abrange tanto padrões de comportamento motor explicito quanto processos interiorizados de pensamento. Inclui respostas simples e previsíveis do nível do reflexo, mas também organizações complexas – por exemplo, a compreensão que a pessoa tem do sistema numérico. Piaget sustenta que todo esquema que tem certas propriedades unitárias, que justificam a afirmativa de que todas as acções, nelas incluídas, são partes de um único esquema.

Estes esquemas são utilizados para processar e identificar a entrada de estímulos, e graças a isto o organismo está apto a diferenciar estímulos, como também está apto a generalizá-los. O funcionamento é da seguinte forma: uma criança apresenta um certo número de esquemas, que grosseiramente poderíamos compará-los como capas de um arquivo. Diante de um estímulo, essa criança tenta incorporar o estímulo em um esquema disponível.

Concluímos então, que os esquemas são estruturas intelectuais que organizam os eventos como eles são percebidos pelo organismo e classificados em grupos, de acordo com características comuns.

 

 Estrutura

 

“O conceito de estrutura tornou-se clássico quando introduzido pela teoria de Gestalt para combater a associação e seus hábitos atomísticos de pensamento”

(Carmichael, 1977)

 

            Jean Piaget situa a problemática, no contexto de uma interacção permanente e continuada entre o sujeito e o mundo exterior, que permite depreender o desenvolvimento da criança, como uma construção activa e dinâmica. A vida é adaptação às condições mutáveis do meio. Esta adaptação só está concluída quando há equilíbrio entre a assimilação e a acomodação. A inteligência começa pelo conhecimento da interacção, existindo uma continuidade do biológico para o psicológico (Golse, Bernard, 2005).

            O conceito de estrutura cognitiva é central e concomitantemente de carácter basal, para a teoria de Piaget e suas inerências. Esta, remete-nos para um padrão de acção física e mental, subjacente a actos específicos de inteligência, correspondendo estes a estádios do desenvolvimento infantil. As estruturas cognitivas patenteiam mutabilidade, através dos processos de adaptação: assimilação e acomodação. Sintetizando, a assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas existentes. Por outro lado, a acomodação refere-se à mudança da estrutura cognitiva, no sentido de compreender o meio e toda a conjuntura envolvente.

            O desenvolvimento cognitivo incorpora um esforço constante de adaptação ao meio, quer em termos de assimilação quer de acomodação. Nesta nota, a teoria de Piaget é similar à teoria de Vygotsky, contudo verificam-se nuances no que aos diversos entendimentos e ideias conceptuais, assim como, normativas, diz respeito.

            Em suma, para Piaget, o paralelo comportamental de estrutura na biologia é um esquema (Piaget, 1950). Este pode ser simples e unitário ou pode ser um sistema global, assim como certas estruturas, como o dedo, são unitárias, enquanto outras, como o sistema digestivo, são muito diferenciadas e distribuídas por todo o corpo.

   

Assimilação

 

“É na continuidade da assimilação que os esquemas se formam, se multiplicam, se assimilam reciprocamente, se coordenam e se organizam finalmente numa estrutura esquemática de conjunto que define a inteligência sensório-motora”

(Tavares, J.; Alarcão, I.; 1992)

 

Assimilação representa o processo da introdução ordenada de dados conhecidos ou novos na experiência, de acordo com os esquemas existentes num indivíduo. Designamos como assimilação, o predomínio da ação do sujeito sobre o objecto. Esta fase é predominante desde o nascimento da criança até aos seus 2 anos (1º Estádio de Piaget- Sensóro-motor), quando ela quer explorar o mundo e tudo o que a rodeia.

 

 Acomodação

 

Acomodação segundo Jean Piaget é um mecanismo da adaptação que estrutura e impulsiona o desenvolvimento cognitivo. É o processo pelo qual os esquemas mentais existentes modificam-se em função das experiências e relações com o meio. É o movimento que o organismo realiza para se submeter às exigências exteriores, adequando-se ao meio. Na medida em que ele compreende aquele novo conhecimento ele se apropria dele e se acomoda, aquilo passa a ser normal (Tafner, M. s/d). A acomodação é um complemento da assimilação. Qualquer modificação de um esquema ou estrutura de assimilação pelos elementos assimilados (Netto, 1977).

 

Exemplo: Uma criança está a aprender a distinguir os animais, quando é apresentada a imagem do cão ela assimila como tal, criar um esquema. No entanto, quando lhe é mostrado um outro animal que possua alguma semelhança com um cão, como um cavalo, ela também o verá como um cão (castanho, quadrúpede, um rabo, pescoço, nariz molhado, etc.)

 

Neste caso, ocorre um processo de assimilação, ou seja a similaridade entre o cavalo e o cão (apesar da diferença de tamanho) passando o cavalo por um cão em função da proximidade dos estímulos e da pouca variedade e qualidade dos esquemas acumulados pela criança até o momento. A diferenciação do cavalo para o cão ocorrerá por um processo de acomodação (Tafner, M. s/d).

Assim, a acomodação acontece quando a criança não consegue assimilar um novo estímulo, ou seja, não existe uma estrutura cognitiva que assimile a nova informação em função das particularidades desse novo estímulo (Nitzke et alli, 1997ª citado por Tafner, M. s/d). Diante deste impasse, restam apenas duas saídas: criar um novo esquema ou modificar um esquema existente. Ambas as acções resultam em uma mudança na estrutura cognitiva (Tafner, M. s/d). Ocorrida a acomodação, a criança pode tentar assimilar o estímulo novamente, e uma vez modificada a estrutura cognitiva, o estímulo é prontamente assimilado, isto é, altera presente estádio de processamento cognitivo de modo a incorporar novas experiencias (Sprinthall & Sprinthall, 1993).

Acomodação

·         Novas percepções;

·         Reformulação de conhecimentos passados;

·         Mudança e desenvolvimentos.

(Sprinthall & Sprinthall, 1993)

 

 
 

Outros Exemplos:

Exemplo: a criança que assimila o reflexo de sucção ao seu polegar, ao sugá-lo usará movimentos diferentes daqueles que usa ao sugar o seio materno.

Exemplo: Qualquer criança depois de ter sido picada por um ouriço-cacheiro, diz  “aquele gatinho não é um gatinho!”

 

Equilíbrio

 

O fundamento da teoria de Piaget sobre a noção de equilíbrio é que todo o ser vivo procura manter um estado de equilíbrio (adaptação) com o meio, sendo um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, e ao mesmo tempo um mecanismo auto-regulador.

Se formos mais exemplificativos, a mente sendo uma estrutura (cognitiva) tende a funcionar em equilíbrio, aumentando, permanentemente, o seu grau de organização interna e da adaptação ao meio.

Quando este equilíbrio obtém experiências não assimiláveis, o organismo (mente) reestrutura-se (acomodação), a fim de construir novos esquemas de assimilação e atingir um novo equilíbrio, fortalecendo assim as características positivas pertencentes aos esquemas no sistema cognitivo.

 

 Factores influentes no desenvolvimento cognitivo

 

         A aprendizagem está envolvida em múltiplos factores, que se implicam

mutuamente e que embora os possamos analisar em separado fazem parte de um todo que depende, quer na sua natureza, quer na sua qualidade, de uma série de condições internas e externas ao sujeito (Malglaive, 1990).

         O processo de assimilação e aprendizagem é caracterizado pela individualidade, é pessoal. Nele encontramos uma partilha de processos passados que irão influenciar aprendizagens futuras, ou seja, no processo desmedido da aprendizagem existe uma constante acumulação de conhecimentos aos conhecimentos já existentes, rentabilizando aqueles que subsistiam.

 

         A estrutura cognitiva é uma estrutura de extrema relevância na aprendizagem. Ausubel (1980) defende que o aluno que durante o seu trajecto educativo, teve a possibilidade de adquirir uma estrutura cognitiva clara, estável e organizada de forma adequada, tem a vantagem de poder consolidar conhecimentos novos, complementares e relacionados de alguma forma. Esta estrutura cognitiva do aluno pode ser influenciada por determinados factores relacionados com a sua exposição no mundo, pelos conteúdos que o assaltam e pelos conceitos com que se depara constantemente.

 

         Tendo em conta o desenvolvimento cognitivo tido por Piaget, que defende que a inteligência de uma criança constrói-se num processo temporal por estádios ou etapas, verificamos constantes estruturações do sujeito, que possui uma acção de interacção contínua com o meio, tendo portanto um papel activo no seu próprio desenvolvimento cognitivo.

 

         Assim, o meio é tido como um principal factor influente no desenvolvimento cognitivo de uma criança, e tendo em conta o que foi escrito anteriormente, os 4 factores piagetianos são aqueles que a melhor esclarecem, sendo eles:

 

-          Maturação - condução necessária no processo de desenvolvimento gradual da formação do indivíduo verificada num plano genético;

-          Experiência Física – na qual a criança toma conhecimento do objecto e de tudo o que ele compreende;

-          Experiência Lógico - matemática – que compreende um conjunto de acções experimentadas intelectualmente pela criança, onde são organizadas acções sobre os objectos;

-          Transmissão Social – na qual verificamos através um meio envolvente, onde a linguagem, contactos educacionais ou sociais são propulsores de um agregar de informações;

-          Equilibração – factor de grande fundamento, pois completa uma não pré-concepção do desenvolvimento das estruturas mentais do indivíduo (tendo em conta que a evolução emerge no constante alcançar de um equilíbrio, sem ter um plano predeterminado). O equilíbrio é dependente da acção do sujeito com o seu meio envolvente, e da acção que este detém sobre o sujeito.

 

        O desenvolvimento é caracterizado por uma constante procura de equilíbrio, a qual significa uma constante adaptação ao mundo exterior. Vê-se que, para Piaget, a aprendizagem não se resume a uma experiência imediata, mas que em conjunto com o processo de equilibração apossa-se da dimensão do próprio desenvolvimento da estrutura cognitiva, que se irá difundir no crescimento biológico e intelectual do indivíduo.

 

Bibliografia

 

José Tavares e Isabel Alarcão. Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. 1ª Edição. Livraria Almedina Coimbra 1999

Julia C. Berryman; David Hargreaves; Martin Herbert; Ann Taylor. A Psicologia do desenvolvimento humano. Instituto Piaget 2002

Baldwin, Alfred L. (1967). Teorias do Desenvolvimento da Criança. 2ªEdição. Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais.

Carmichael (1977) Manual de Psicologia da Criança. Volume 4. Desenvolvimento Cognitivo I. Editora da Universidade de São Paulo.

Golse, Bernard (2005). O desenvolvimento afectivo e intelectual da criança. Manuais Universitários. Climepsi Editores.

Netto, S. P. (1977). Manual de Psicologia da Criança - Volume 4 - Desenvolvimento Cognitivo I. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

Sprinthall, N. A. & Sprinthall, R. C. (1993). Psicologia Educacional - Uma abordagem desenvolvimentista. Editora McGraw - HILL de Portugal, Lda.

Tafner, M. (s.d.). A construção do conhecimento segundo piaget. Obtido em 14 de Outubro de 2010, de www.google.pt - Cérebro e mente: www.cerebromente.org.br/n08/mente/construtivismo/construtivismo.htm

www.fsc.ufsc.br/cbef/port/16-2/artpdf/a5.pdf

www.cerebromente.org.br

 

 

Reflexão do filme intitulado: “Quanto vale ou é por quilo?”

 

Tendo em conta o visionamento do filme proposto, podemos abordar o conteúdo inerente ao mesmo, de um ponto de vista neutro, visando uma abordagem substanciada, preponderante e sustentada na teoria à qual nos dedicamos no trabalho proposto para esta disciplina.

Este filme pretende enfatizar uma determinada perspectiva (infelizmente uma realidade conjuntural), contudo desenrola-se em vários contextos e vivências. Estas estão relacionadas com a escravidão que acontecia e a “escravidão” que acontece.

Consumir é o propósito das relações, subjacentes a diversas inverdades, o produto é essencial sendo o processo acessório, até vítima de desprezo (história vivenciada por Mónica, em que na falta de dinheiro para a realização do casamento da filha, aceitou a ajuda monetária de uma ‘amiga’ que posteriormente perpetuou a dívida subjacente).

Tendo como suporte esta contextualização e a teoria que nos ampara o visionamento do filme (Psicologia do Desenvolvimento - Jean Piaget), podemos afirmar que o individuo apresenta um desequilíbrio devido às constantes aprendizagens (em todos os casos e personagens intervenientes). O quadro de assimilações é paralelo ao de aquisições (vigentes), tendo em conta as realidades semelhantes e também paralelas que são espelhadas neste filme.

Poderemos fruir como exemplos do filme:

-                            Na escravatura, os indivíduos eram coagidos à realização de tarefas domésticas, enquanto que num paralelismo actual verificamos que os indivíduos considerados livres (nas instituições de solidariedade) são identicamente coagidos na realização das mesmas tarefas;

-                            Uma escrava alforriada, ao tirar uma fotografia de “família”, possui como seus subordinados, escravos de raça negra (os quais estavam numa idêntico posição que a escrava alforriada já tinha vivenciado).

Principalmente neste último exemplo lícito, verificamos a existência de um reverso de uma moeda que persiste em não ser alterada por uma nova, diferente e característica de uma mudança clara e significativa de paradigma (independentemente da temporalidade).

 

 

 

Questões

(Relativas ao filme “Quanto vale ou é por quilo?”)

 

De acordo com a teoria de Piaget este filme levantou-nos as seguintes questões:

1.      O processo de assimilação/acomodação/aquisição pode ser considerado paralelo relativamente as diferentes épocas (escravatura/actualidade)?

Por exemplo, quando nos olhamos aos espelho em diferentes sítios: somos a mesma pessoa mas o espelho onde nos vemos é totalmente diferente.

2.      Pegando numa cena do filme, aquela em que o rapaz que era lixeiro e que passou a fazer trabalhos considerados “sujos”.

·         Podemos considerar que a escravatura influenciou a visão ou a concepção da sociedade actual e a maneira como os seus intervenientes passaram a agir?

3.      A teoria de Piaget é baseada em estruturas que contêm interacções entre si?

4.      Dentro da sociedade em que o individuo se insere existem acções que são consideradas naturais e são aceites na sociedade?